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Pescadores do Araçá em Porto Belo capturam lixo do mar como forma de cuidar do meio ambiente
A educação ambiental passada adiante pelo pescador João Carlos dos Santos cada vez que ele pedia aos colegas pelo rádio para "trazerem o lixo para a terra" virou prática em Porto Belo. O hábito de recolher os resíduos capturados no mar pelas redes de pesca e também os recicláveis produzidos pelos trabalhadores se tornou uma das ações do projeto "Recicla Araçá - Por um Bairro Melhor para se Viver".
Em fase piloto, a parceria público-privada começou a ser implantada em maio deste ano e já contempla os cerca de 300 pescadores da comunidade.
Há uma semana, dois barcos que retornaram de alto-mar, após um mês de pesca, trouxeram cerca de 60 quilos de resíduos para encaminhar à coleta seletiva.
— Eu me sinto feliz por fazer algo pela natureza, porque ela não pode se defender sozinha — afirma Santos.
Nascido no Araçá, Santos conta que quando eles vão pescar nas águas de São Paulo e Rio de Janeiro chegam a encher 15 sacos de cem litros. Metade é de lixo retirado do mar.
— É muita coisa mesmo. Às vezes até falta espaço no barco — diz.
Nas águas catarinenses, entre São Francisco do Sul e Florianópolis, a situação não é tão ruim. De acordo com o pescador, os trabalhadores costumam retirar entre dois e três sacos de cem litros de lixo do mar. Entre os resíduos, eles encontram desde sacolas plásticas, roupas e até galões com restos de óleo. Ao retirar esses materiais, eles protegem os animais marinhos. O pescador conta que não é incomum o grupo se deparar com tartarugas mortas por terem comido plástico, que confundem com as águas marinhas, ou peixes com braçadeiras presas ao corpo e limitando o crescimento deles.
Além do lixo, os pescadores do Araçá também estão recolhendo redes de pesca que arrebentam em alto-mar ou que já não têm mais condições de uso. Santos explica que um equipamento no barco, chamado de centopeia _ que pesa entre 80 e 90 quilos _ é lançado para o fundo e após a navegação ser retomada, do engata na rede e a trás de volta para a embarcação.
A conscientização promovida pelo pescador deu tão certo que hoje um atua como fiscal do outro. Ao ver um trabalhador descartando lixo no mar, por exemplo, o outro envia mensagem pelo rádio cobrando. E quando o barco chega, conforme Santos, a prioridade é "trazer o lixo para a terra".
— Não fazemos nada demais , é só o nosso dever — avalia com simplicidade.
Comunidade abraça o projeto
Uma das estratégias para envolver a comunidade foi dar a missão para alunos da escola municipal do Araçá de batizar o projeto. Germano Raymundi, responsável pela Mais Eco Coleta Seletiva, empresa que faz a coleta em Porto Belo, conta que os pequenos ficaram tão empolgados com a ação que por conta própria fizeram a limpeza da Praia do Araçá com a ajuda de outros moradores.
— A comunidade está abraçando o projeto — observa.
A ideia de usar os agentes de saúde como "multiplicadores da coleta junto à comunidade" também está dando certo, de acordo com a diretora de Licenciamento Ambiental e Controle de Poluição da Fundação de Meio Ambiente (Famap), Roberta Ribas Ruthner. Eles contribuem com o projeto compartilhando o conhecimento sobre a região, por baterem de porta em porta.
— A empolgação deles, é isso que a gente quer, para que eles criem essa conscientização e a população acredite na ideia e coloque em prática — afirma.
Recentemente, segundo Roberta, os servidores apontaram um local crítico de acúmulo de lixo no bairro, na Ponta do Caixa d'Aço, de onde foram recolhidos 200 quilos de resíduos com a ajuda de um barco conseguido por eles. Para poder atuar em favor da coleta seletiva, os agentes receberam um curso preparatório.
Recicla Araçá é um conjunto de ações
O trabalho com os pescadores é apenas uma das ações do Recicla Araçá. Palestras na escola do bairro para orientar os pequenos sobre a importância da reciclagem, instalação de ecopontos (um no trapiche e outro no posto de saúde) para coletas de recicláveis, redes de pesca, pilhas e baterias, além do caminhão da coleta seletiva que passa na casa dos moradores toda segunda-feira, são outras atividades.
— No fim do ano a ideia é implantar pontos para a coleta de volumosos (sofá, guarda-roupa) e eletroeletrônicos — adianta Raymundi.
O caminhão recolhe cerca de 500 quilos de resíduos do bairro por segunda-feira. No fim do mês, a ação impede a ida de 2 mil quilos de recicláveis para o meio-ambiente.
O projeto também envolve a Secretaria de Turismo de Porto Belo. O objetivo é orientar donos de restaurantes e pousadas a também fazer a separação do lixo. No fim do ano, a intenção é focar nas imobiliárias para que os estabelecimentos também encorajem os turistas a cuidar do lixo produzido por eles no município.
A intenção é estender o projeto, em fase piloto no Araçá, para todos os bairros da cidade. O local foi escolhido como ponto de partida, por ser a região que apresentava os melhores índices de coleta.
Fonte: O SOL DIÁRIO