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Cresce a oferta de produtos rastreados
Cresce a oferta de produtos rastreados
Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade do Carrefour: "A transparência é uma tendência e logo os consumidores vão querer saber o que estão comprando".
As grandes redes de varejo no Brasil estão ampliando a oferta de produtos rastreados que podem ser "acompanhados" em seus websites pelos clientes. Coincidência ou não, as vendas desses produtos estão em alta. Primeiro foram as carnes nobres da marca própria do Pão-de-Açúcar. Depois, carnes e peixes do Walmart. Agora é a vez do Carrefourabrir ao consumidor brasileiro informações sobre a procedência de parte das suas carnes bovina, suína, de frango e camarões. A partir de hoje, o cliente da rede francesa poderá acessar pela internet, através de um número de identificação do produto, dados como local e nome da propriedade de onde veio o animal, data de abate e a identificação do veterinário que cadastrou o lote. O Carrefour era a última grande rede varejista que ainda não tinha uma ferramenta para dar transparência à cadeia produtiva da carne. E as ações não foram a troco de nada: essas mesmas redes estão na mira do Ministério Público Federal do Pará e Greenpeace por contribuir com a derrubada da Amazônia ao comprarem bois de áreas desmatadas.
"Daí a decisão de começar por esses produtos, apesar de a maior parte dos consumidores não ter informação suficiente para ter interesse nisso", admite Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade do Carrefour no Brasil. "Mas a transparência é uma tendência e logo os consumidores vão querer saber o que estão comprando. Nós estamos dando um passo". Neste primeiro momento, o Carrefour disponibilizará na internet 66 itens - nove cortes de carnes bovina, 14 de frango caipira, cinco tipos de camarões e oito cortes suínos - do total de 140 que pertencem ao Programa Garantia de Origem (PGO), criado em 1999 a partir da experiência da matriz francesa. Seis fornecedores que abatem os animais podem ser rastreados na internet, e a ideia é aumentar para 17 em 2011. As plantas são monitoradas por dez fiscais do Carrefour e auditadas por empresa independente.
A iniciativa é uma boa notícia em meio ao pior baque da filial brasileira - afetada por perdas não contabilizadas da ordem de €550 milhões - e mostra avanços importantes na política de sustentabilidade do grupo. É também uma inovação da empresa no país: na França, onde essa ferramenta existe há alguns anos, as informações ao consumidor estão impressas na etiqueta da embalagem. O modelo permite que o cliente tenha os dados no ato da compra, mas é um limitante. "Como aqui as informações estão disponíveis no site, podemos acrescentar outras coisas", explica Pianez, transferido da área financeira para alavancar a política de sustentabilidade da empresa. Segundo o gerente do Programa Garantia de Origem, Gerard Antonius Eysink, a previsão é ampliar a transparência de dados a 83 itens, incluindo legumes e frutas embaladas e ovos caipiras.
Até pouco tempo reticente em falar sobre o assunto, o varejo passou a adotar uma postura pró-ativa e fala com desenvoltura sobre sustentabilidade na cadeia produtiva. "Não se trata de correr atrás da concorrência. Todos ganham quando a empresa disponibiliza o rastreamento ao consumidor", diz Christianne Urioste, diretora de sustentabilidade do Walmart Brasil. "Esse é um processo que a gente tem que conduzir, mesmo que o consumidor não veja [as ações] no começo". O Walmart, por exemplo, criou o seu programa "Qualidade Selecionada, Origem Garantida" em agosto, permitindo ao cliente acompanhar, no site da empresa, todo o processo da cadeia produtiva de itens de agricultura por meio de um código de barras disponível nas embalagens. O primeiro produto foi a carne da marca própria "Campeiro", com seis cortes diferentes. Seis meses depois, ampliou a informação na web de 50 produtos: 40% do pescado total vendido nas lojas Walmart estão acessíveis no site, 10% dos hortifrutis e 5% da carne. "E vamos trabalhar fortemente na expansão da plataforma em 2011", diz Christianne, a diretora de sustentabilidade no Brasil.
O Pão-de-Açúcar foi mais além: além da internet, as informações funcionam a partir de um aplicativo para smartphones com leitor 2D. O grupo fechou 2010 com 1.500 quilos de carne rastreada. O site da empresa, diz Vagner Giomo, gerente de desenvolvimento de carnes, pulou de 3 mil para 4,5 mil acessos por mês. "As pessoas começam a mostrar interesse na rastreabilidade", diz o executivo. De modo geral, as empresas verificaram altas nas vendas dos produtos com informações abertas. Mas é impossível atribuir isso exclusivamente à rastreabilidade. Isso porque tratam-se de produtos nobres - cortes especiais de carnes, tradicionalmente mais caros. Os próprios executivos admitem que (boa) parte do crescimento nas vendas do açougue se deve ao aquecimento da economia brasileira, que elevou o padrão de consumo da população.
Além de ampliar o portfólio, os varejistas afirmam que pretendem melhorar a qualidade da informação disponível. O raciocínio é que, para o consumidor comum, seja mais interessante saber sobre o modo de produção ou forma de abate. Ou ainda detalhes ambientais da propriedade rural, preocupação sobretudo para o público mais esclarecido.Se o varejo avança nessas tecnologias, a indústria começa a perceber as vantagens da rastreabilidade. Neste mês, a multinacional sueca de embalagens Tetra Pak e a cooperativa catarinense Aurora lançaram o primeiro leite longa vida com rastreabilidade no mundo. Com a rastreabilidade do leite será possível saber a origem do produto envasado, embalagem a embalagem, desde a cooperativa onde a matéria-prima foi recebida até a industrialização. A Aurora é a primeira cliente da Tetra Pak, mas a companhia de embalagens já negocia a venda do sistema para outras empresas.
Fonte: Valor econômico (SP)